E mais um dia...

Hoje eu amanheci distante.
Ondas batem em meu travesseiro.
Acordo já selecionando abismos.
Encolhido na cama, o tempo que passa e fingido que por um momento tudo parou.
E mesmo que o despertador alarme para que eu levante, ignoro por descuido e apreço.
Hoje o dia simplesmente amanheceu, o sol não veio. Está frio e as nuvens são cinzas.
Mais um dia.
O cansaço e a magnitude de viver.
A praticidade de ser.
A ilha está cheia de muros, eu não entendo as pessoas, e do outro lado há coisas que eu não ouso compreender.
Uma poesia de alguém perdido, sem margem, nem reticências. Apenas perdido em palavras.
O vento vai levando tudo embora.
Os sentidos que eu criei para dar sentido às coisas que não tem sentido.
Um quarto, janelas e portas revelam o instante de solidão.
Perdido, eu não volto para casa.
A minha casa são essas palavras.
Entro no chuveiro, de pele arrepiada, água fria, e deixo o banho levar tudo que sai do meu corpo sem que antes eu tenha permitido, deixo misturar-se com a solitude desesperada, com a cachoeira beirando o cansaço de ter que abrir os olhos.
Agora de pé e banho tomado, invento a disposição, incendeio a tristeza, tudo o que faço, cautelosamente e subitamente. Abraço esse dia com gosto de café amargo, coloco açúcar e bebo feliz.
São coisas que me fazem crescer, coisas que me fazem erguer.
Um castelo enorme de cartas, e apenas eu.
Eu e mais um dia...

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