É preciso fingir

É preciso agasalhar aqui. É preciso fingir. Quem é que não finge neste mundo, quem? É preciso dizer que está bem disposto, que está tudo bem, que não tá com fome, é preciso dizer que não está com dor de cabeça, que não está com medo... se não, não dá, não dá.

Quando olhei no espelho já não havia mais o presente, o passado pouco se desfaz e o buraco do espelho está fechado. Agora eu tenho que arriscar, tenho que encarar. Agora eu tenho que ficar aqui com um olho aberto, outro acordado. No outro lado onde eu caí.
Prisioneiro, do lado de cá não tem acesso.
Mesmo que me chamem pelo nome, mesmo que admitam meu regresso, toda vez que eu vou a porta some. A janela está borrada e sigo no trilho já formado.

Eu tento me encontrar em meio a todo esse caos.
No outro lado do espelho existe um lugar mais calmo, longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita.
Penso e tenho quase certeza que não sou ninguém. Meus poemas me trouxeram onde eles não habitam. A frustração vai ser maior e digno de dó, ilusões, hipocrisia, febre e hierarquia, crise e ideologia.

Nenhum médico jamais me disse que a falta de amor e esperança nas coisas podem levar ao distúrbio mental. Mas quem não acredita na vida, quem não ama nada e ninguém, encontra-se com a loucura. Um desgosto pode levar à loucura, uma morte da família, o abandono de um grande amor. Ilusões levam a loucura.
A gente precisa fingir que ama, amando. Fingir que é sincero consigo, sendo sincero. É preciso fingir que a gente tem chão mesmo quando tudo não faz mais sentido, mesmo quando as vozes do trilho te pertubam.
É preciso saber viver.

A gente até precisa fingir que é louco sendo louco. Fingir que é poeta sendo poeta...

Comentários

Postagens mais visitadas