Desculpe o transtorno, preciso falar sobre solidão.

Solidão, tudo o que eu tornei para se tornar menos insuportável. Tudo que eu imaginei, fantasiei, que chorei, que espantei, pra longe de mim.
A solidão, aquelas batidas surdas no peito, as batidas desenfreadas do coração.
A saudade do que fomos, do que vamos ser, do futuro preso nessa cama.

Aquele cenário preto e branco, ruas vazias, esquinas sem o acaso, o vento que sopra ao norte, calado, sozinho.
A lua que nasce lá em baixo, atrás das montanhas, cheia de estrelas ao redor, mas sozinha, único companheirismo é o escuro.
Sozinho, caminhando, nesse momento eu sou eu, com os meus vários eus, calmos. Agora sem nenhum conflito, a não ser o valor de meus pensamentos.
Um ponte longa, que me leva ao outro lado, vejo apenas lava. Rua estreita e um rio submerso, algo me puxa para baixo e são as minhas únicas forças que me mantem nessa rua, estreita e vazia.
Vazio, muitas pessoas vazias, e não se sabe quem escolheu ser assim. Moro em um lugar vazio, gente vazia, rasa, só vejo a superfície.

A coisa mais linda que eu já ouvi, foi o barulho do mar, aquele infinito, aquela bagunça, pacientemente desorganizada, as ondas que declinam, todo o mistério que há. Mar rima com mistério, inconsciente. Mar rima com o eu, com o que eu sou. Ali, sozinho, barulhento e cheio de gente fingindo querer admirar.

Nego para mim mesmo a solidão, mas assumo que precisamos dessa solitude, para organizar o que a rotina faz na gente, para organizar nossos sentimentos, para irmos atrás de nossos sonhos.
Solidão é preciso, para se entender, para entender o mundo, para buscar um sentido que torne o escuro mais confortável.

Estou uma ilha, submerso, longe. Ninguém me entende. Tudo o que eu sacrifiquei ao meu redor, tudo o que se foi sem um adeus, todos que vem, e que vai. A lágrima que causa tempestades, a lágrima que leva embora, que soluça o peito, mas não soluça o sentido.

Estátuas e chãos, nada mais.
Viver exige encenação, é um eterno espetáculo, o show que fazemos diariamente, para essa platéia, vazia, sozinha e mesquinha.
Somos parte, não o todo, mas é o todo que temos. A vida não é uma farsa, ela é uma tragédia.
E a solidão, é uma companheira de todas as horas, dos conflitos, desesperos.
É a sombra que me acompanha quando ninguém mais está fingindo estar perto de mim.
Tudo o que fizemos, os sentidos e sonhos que arrumamos, as festas, os sorrisos, a embriaguês dos perdidos em pequenas coisas, tudo para suportar a solidão.
A solidão que é do nosso berço e tememos mais que a morte.
A paródia, a paranóia e o eco do que imaginamos ser, de alguma forma, parte desse mundo, vazio e sozinho. Como um grão de areia...

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