Louças sujas
Eu lavo os pratos lentamente me lembrando que ainda existo.
Que ainda sou forma, puro, ingênuo, homem.
Destaco o sabão a esfregar a sujeira presa nos cantos,
enquanto os pensamentos, palavras, aquelas letras, ainda dançam em meu sangue.
A faca me corta sem querer, e a pequenina gota vermelha que sai pelo minúsculo
corte em minha pele, aberta e quase inteira, escorre no dedo molhado, sendo
apenas sangue com seu jeito de ser o trânsito entre as artérias, veias,
transportando, fazendo o coração ser pulsante.
Percebo coisas a mais que os pratos sujos e os lavados, em
termos. Se a água lava, eu me lavo sem saber. Da mesma forma que me sujo
procurando o sabão. Eu erro, mas assumir isso também é demais. E minto
construindo mais uma verdade.
A verdade, eu vou falar qual é, nunca que o sabão seria eu,
e nunca a sujeira será eterna, uma hora surge o limpar, sabe? Rodopio e me
curo, me sinto curado, um pouco triste, mas muito mais forte
Mais livre e mais eu
Solidão e preenchimento são dois lados da mesma moeda.
A água é apenas água, da mesma forma que o sabão é o sabão e
a sujeira narra a sujeira. As coisas são como são.
Eu permanecerei com esse vazio, e isso não é ruim.
Sinal que existo
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