Encontrei-me (desabafo)
Encontrei-me andando pela casa, murcho,
aflito, estava tudo calmo, porém muito sem graça. Sentia-me minado, sozinho em
meio à multidão que me rodeava. Sufocado pelas responsabilidades que tinham que
ser encaradas. Sozinho, pela casa andava esbarrando nas paredes duras de meus
pensamentos, assistindo de longe a programação tênue de minha vida.
Aquela rotina
me condenava, era um roteiro de acordar, comer e dormir.
Ultimamente andava me afastando dos
compromissos, talvez por estar exausto de tantas coisas em minhas costas. Precisava
de um tempo apenas pra mim, pra me colocar em meu devido lugar. Não fazia nada
que exigisse uma responsabilidade maior que eu poderia arcar se faltasse, e
então vi que daria uma folga a mim mesmo.
Era começo de primavera, as flores
acordavam sinuosamente, com aquele brilho da manha. Exaltava algum começo próximo.
Olhei-me em frente ao espelho e quando vi
meu rosto, não o reconheci. E em cada marca que estava ali sendo refletido eu
vi minha história. E percebi novamente que estava só. Não havia amigos,
parentes, nem mesmo eu. Era algo como um buraco sem fundo. Percebi que ficar só
era apenas uma porta para me entender melhor.
Os ossos
adorados cresciam em minha ausência. Percebi o quanto eu era substituível, era descartável,
percebi que apenas servia quando necessário. Dos mais próximos eu não queria incomodar
já que eles já traziam em sua bagagem o peso dos desnecessários e problemas
pessoais. E mais uma vez me encontrei sozinho, não podia contar com mais
ninguém.
Às vezes surgiam convites para sair,
aparecer um pouco, beber, curtir, na tentação eu ia, mas às vezes recusava e o único
compromisso era ficar deitado em minha cama, sozinho apenas com meus dramas e
pensamentos adorados.
Do que adiantava todos àqueles cinco mil amigos
nas redes sócias, todas aquelas curtidas, comentários nas minhas publicações,
me chamavam em meu chat, apenas pra saber de coisas desnecessárias, do que
adiantava tudo isso se em meu quarto eu estava só, e a única companhia a não
ser a escuridão era escrever. Todos aqueles sorrisos que escorriam lá fora por
mim fingindo estar tudo bem. Nas minhas fotos os sorrisos de gelo, mostrando
que eu estava feliz, todos acreditavam, até os mais próximos, pra eles eu
estava bem.
Encontrei-me deitado em minha cama espiando
entre as frestas de sol que entrava em minha janela o que poderia ser a minha
vida. Ninguém me entendia, ninguém me convidava a um abraço apertado, ninguém
me convidava a chorar junto a afogar nossas magoas. Meus parentes distorciam
minha realidade, pra eles eu estava forte para tudo, já que ninguém conseguia
enxergar dentro mim o quanto eu estava fraco e vazio. Minhas únicas forças eram
para me manter na combativa e sorrir o quanto eu estava bem, mas não estava.
Havia a necessidade de eu trabalhar, pra
parecer-me necessário em algo, a não ter que ficar em casa apenas, o único compromisso
que me permitia, os outros eu descartei assim como o que faziam comigo, como
são as pessoas, todas descartáveis. Viver parecia mesmo coisa de insistente, e
todo esse clichê.
O cimentado de meu muro concertava o reboco
da frente. O meu telhado protegia minhas fraquezas.
No meu
espelho refletia algo que eu não gostava.
Aquelas flores
de primavera em mim murchavam.
Escrever pra
mim era uma terapia, sentia-me mais preenchido assim como as folhas que cobriam
uma árvore e dava sombra aos que fugiam do sol.
Encontrei-me
assim cheio dos acasos e dos desnecessários que cobriam essa primavera imatura.
Espero um dia fazer as coisas que eu gosto, ter
desejos sem nenhum receios. Quero poder ser eu sem as condenações de minha família.
Sem nenhumas limitações. Quero que entendam que eu sou um ser humano de carne e
osso, com suas fraquezas. Sou um ser humano que deseja nutrir
Quero viajar o mundo, sorrir mais, fazer tatuagens,
me arrepender das besteiras que vou fazer, quero levar os baques sozinhos, abraçar
meus pais, socializar mais, eu quero ser eu, apenas eu. Nunca reclamar, pois
sei o que eu tenho o que consegui e o que vai chegar eu fiz por merecer.
Eu nunca fiz a questão de estar aqui, nem
participar dessas coisas, foi acidente em que eu vim ao mundo, não sou culpado
de nada, vivo alternando entre as coisas que chegam a mim. Essa rotina ainda
vai me largar ou vai me levar a algum lugar. Um dia eu vou morrer, ainda chego
lá. Por enquanto eu vou tentando viver, tentar ficar longe de pensamentos
ruins, de me encontrar em uma sacada a ponto a me jogar.
Eu sou feliz pelas coisas que tenho, não
digam que é drama. Só apenas algum desabafo de uma pessoa que anda por aí
tentando se encontrar.
Eu quero que leiam aqueles que possam me
ajudar. Já que meu grito é mudo, nos meus olhos permanece o caos.
Quero ter autonomia sobre mim e demitir que
não me respeita, quero ser um antidepressivo e me curar.
A nossa
passagem aqui é tênue e significante apenas pra nós, e a nossa caminhada por
aqui é dolorosa.
Vivemos e
somos empurrados ao acaso
Na penumbra
de nossas vidas sem saber o que será do nosso amanha.
As noites
nos condenam, em nossos travesseiros marcas das lágrimas.
Os meus
gostos e desejos são manipulados pela vida de alguém que já teve os seus condenados
e vê que os meus são os seus. Não são, e quero que entenda, por favor, deixe-me
voar. Imploro o mais alto. Já me criaram e agora é a minha vez de sair.
Encontrei-me assim, desabafando, tentando ser
coerente no meu eu. Cansado das minhas fraquezas e das minhas posturas combatíveis,
deixando as minhas dores pra cuidar das dos outros. Hoje eu me dei uma folga
para enxergar por entre a janela a minha vida aqui dentro, o quão é necessária ainda,
pois sou luz demais pra ser apagado por
algum interruptor.
Que texto lindo!!
ResponderExcluirParece que li minhas próprias particularidades.
"... E quero que entenda, por favor, deixe-me voar. Imploro o mais alto. Já me criaram e agora é a minha vez de sair."
Entendo o que meus pais fizeram por mim, os sacrifícios, os exemplos. Entendo e respeito todo o trabalho árduo deles, não quero dizer que sou dona da verdade, mas acredito que sou crescida o suficiente pra tomar minhas próprias decisões, meus próprios rumos.. Sei que sou capaz de decidir o curso, a cor do cabelo, a cidade que vou morar. Preciso que meus pais confiem em mim, se me conhecem, como dizem, devem saber o potencial que tenho para tal coisa. Vejo esse texto como um desabafo de muitos, muitos que mesmo convivendo no dia a dia, é desconhecido pela família, por não ter a oportunidade de se mostrar como é, de fato. PERFEITO!! *-*