Quem nunca foi arrebatado...

  Quem nunca foi arrebatado pelo conjunto de seus pensamentos e sentiu-se na vontade de vomitar tudo pra fora, pra alguém, em algo, ou até mesmo em palavras tornando um texto?

   Ultimamente andei por aí, não por aí no mundo sem destinos certos, talvez fosse isso, mas não, eu andava pelas ruas desconhecidas de meu interior, por aí perdido. Assustando-me com os muros que eu construí, espantado com os que eu derrubei. Andava assim nas curvas acentuadas de meus pensamentos, sem saber onde, eu estava vivo.

    Estava vivo em tudo que eu via presente, na vida que corria sorrateiramente entre meus olhos, no vento que soprava aquelas árvores que eu observava sinuosamente noite passada, na lua que estava mais cheia do que nunca, ali destacada no meio de um céu limpo, com nuvens rápidas como passos acelerados, porém limpo demais permitindo que aquela lua iluminasse cada centímetro de terra, deixando tudo muito claro que o normal, até as sombras faziam-se presentes, escondidas, manchando o que se foi escondido, naquela noite.

   Ultimamente andei desligando os interruptores de minha vida com quem quisesse e buscasse o escuro, desliguei as luzes pra que não me vissem, não enxergassem o meu estado. Queimei as lâmpadas como quem nas escuras já soubesse as saídas. assoprei as velas como quem não quisesse vê-la apagar.
   No mesmo tempo em que eu apagava as luzes, interruptores e queimava as lâmpadas, eu acendia as velas ao redor e pude enxergar embaçadamente o escuro indo embora, mesmo sabendo que ele se encontrava ali tão negro como nunca.
  Pegavas as tochas e ia caminhando, lapidando as paredes de minha consciência. É incerto o que eu procuro, talvez esteja em alguns daqueles balões que eu estourei outrora em minha infância. Ou nas velas que eu assoprei quando havia algum blackout.

Não adianta implorar pra que acendam as luzes que você mesmo apagou e que só você pode acender novamente. Os nossos limites estar em nossas finitudes e grandezas.

Estar só não significa estar sem ninguém. O caos mora ao lado da solidão. A multidão lhe observa com facas na mão. A nossa essência foi roubada há muito tempo e foi levada junto com a nossa pureza. Ninguém é inocente, somos mordedores de nosso pecado. Lamentar uma escolha é se afundar nos acasos. Quero inventar o meu próprio pecado. Quero morrer do meu próprio veneno. Sábios são os cães estarrecidos e velhos que não gasta o seu tempo ladrando a toa, pois já cansou de latir ao seco, hoje ele sabe se defender, pois o cão que já nem ladra apenas só morde.

    Nesse espetáculo que chamamos de vida a todo tempo insistem em roubar nossos roteiros livres, tornando-nos prisioneiros de cenas já feitos por outro alguém. Nesse meu espetáculo eu apenas observo sentado atrás das coxias, escondido nas cortinas, quem está atuando é o meu substituto, alguém em que eu não conheço. Cansei dessas mesmas cenas e hoje apenas espero o corte final. A plateia assiste lá, aplaudindo os desnecessários e ignorando as cenas significantes. A regra é ser e seguir o roteiro mesmo que seja só pra convencer toda a plateia.

    Quem nunca foi arrebatado pelo desejo incontrolável de sair por aí sem destinos, apenas pra conhecer e tocar nesses muros, apenas pra alcançar seus limites, ou mesmo pra sentir naquelas sombras escondidas que o brilho da lua fazia. Quem nunca foi arrebatado pela vontade de conhecer novos mundos?
E quem nunca foi arrebatado em devaneios onde você encontra vários de você, lhe circulando, em ocasiões diferentes, lhe manipulando, lhe tornando...

Separo em tópicos o que vem vindo em minha cabeça e convido-os a dançar nesse texto, fazendo que tenha algum sentido todos esses desnecessários e desbravadores pensamentos que seguem me deixando calado por fora e gritante por dentro.

A Utopia é apenas reservada a aqueles que sonham e se permitam.

Quem nunca foi arrebatado pelo desejo de realizar o sistema ou plano que parece irrealizável, fantasias, devaneios, ilusões, sonhos.
Quimeras de nossas ilusões nos tornam vulneráveis. Vivemos em compreensão de nossos destinos.

Eu nem sei quem são a maioria dessas pessoas que assistem rindo de meu fracasso.

Observei de longe os pássaros a voar e senti o cheiro daqueles feitos.

Ultimamente eu me conheci mais... 

Comentários

  1. Todos nós, ou quase todos, ou os que se permitem, já foram arrebatados em seus pensamentos.. A intensidade do que se pensa, as vezes é tão ntensa, que nos leva a outra dimensão, nos dá a oportunidade de ver de fora a nossa vida. Nos permite olhar pra nós mesmos como se fôssemos outro ser. A deslumbrante oportunidade de se ver, como nos vemos em vídeo é incrível. Vê como falamos e gesticulamos cada palavra. O pensar e sonhar andam lado a lado, nos dando a oportunidade de se ver e ver nossos atos, alguns ensaiados, outros improvisados, pra convencer e persuadir ou não quem está assistindo. As vezes estamos sós, mas rodeados de pensamentos que parecem se personificar em algo do nosso inconsciente. Que nos permitir nos libertarmos ou aprisionarmos a nós mesmo. A mente nos leva ao mais alto níveis da observação interior.
    Essa...
    É a reflexão que esse texto, perfeitamente escrito me faz ter. Cada palavra muito bem colocada, me vejo em cada vírgula e acento desse texto, me permitindo, então, me observar de fora

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