Inquietudes de uma noite

O vento dessa noite soprava frio, um vento de congelar. E pensamentos passavam ondulando sobre mim e embarcando a viseira, passava mais rápido sobre mim quanto a vida lá fora.
Eu sinto um apreço tão grandes por essas noites, trazem nessa inquietude uma bagunça totalmente espalhada, e é nesse momento que sou remetido quando criança e ganhava um daqueles quebra cabeca de cem peças, de deixar qualquer um doido sendo submetido a aquele momento de se deixar levar pelas peças, catando de uma por uma, bagunçando pra ficar organizado, encontrando e perdendo. Nessas noites que trazem de presente pra você, quebra cabeças totalmente bagunçado para você montar.

Oscilavam sobre mim o caos e a concordância das coisas.
Esses são os ossos adorados
Que cresceram em minha ausência.
As conexões, às vezes tênues, às vezes feitas com muito sacrifício durante minha sinuosa caminhada até aqui, por mais que eu queira apressar as coisas, eu não consigo. Verdadeiramente estou perdido.
Não seria viável dizer que estou perdido.
Nem congelado ou simplesmente morto.
Eu estou vivo...
Estou presente nessa linha insignificante que cerra meus punhos de que querer tentar chegar no fim do túnel.
Da linha fúnebre de meu abismo.
Estou vivo no meu mundo perfeito.
Escondido das imperfeiçoes.

Nessa tarde eu caminhava, estava indo com minha mãe e minha irmã comprar algumas coisas para um jantar de comemoração aqui em casa para minha mãe, que completava ano, e fomos ao centro da cidade. Um sol escaldante, apesar de a gente estar com trages pretos para uma tarde ensolarada, não nos encomodamos e seguimos. O que incomodava era o vento que soprava uma brisa quente em nossas faces que se misturava com nosso suor e descia salgando a nossa pele na tentativa de escapar de nossos poros.
Chegando no centro, ainda andando procurando as coisas pra levar, fui atraído na sessão de livros, CDs e DVDs. Olhei alguns livros na tentativa de encontrar algum que esteja em minha lista, numa tentativa fúnebre, fui para a sessão de DVDs e fui procurar um DVD que eu queria muito assistir. "Um olhar do paraíso", filme particularmente um dos melhores que já assisti. Levei-o e fui pra casa já ancioso pra assistir.
Minha mãe e Raiane, minha irmã, ficaram fazendo a janta de comemoração. Aqueles pratos apetitosos, de dar água na boca, aquele cheiro que pairava no ar. E enfim jantamos e assistimos o tal DVD.

Conversava com meu amigo, Felipe, de Maceió sobre as belezas do lugar, deixando-me com mais vontade de ir visitar. Eu que já era fascinado pelas praias de Alagoas, já estava eu fazendo planos para as minhas futuras férias. E falávamos sobre alturas, foi sobre alguém que se jogou de uma sacada, e ele falava o quão corajoso o rapaz que se jogou da sacada do prédio.
Essas pessoas que inventam de brincar de morrer. Vitimas das facadas da vida, das decepções, das marcas, das dores acumuladas. O quão é triste um suicídio.

E perante a bagunça que aquela noite desenhava em mim congelava a razão.

Não há nada mais esclarecedor e libertador do que encarar a altura na penumbra de seus anseios.
De ver seu medo do tamanho de uma formiga.
Do pulo de uma sacada que lhe atormenta.
De ter uma overdose.
Uma overdose de alegria.

A inquietude de hoje me assusta e me fascina.
Grito o silêncio em mim.
Em uma tarde por aí, uma qualquer, perdida ao vento. Em que me sentia só. Apenas eu e meus pensamentos. Dançando e flutuando em mim, em um quebra cabeça sem fim. Eu saí. Sozinho, sem rumo qualquer, peguei um ônibus pra algum lugar, cheguei em algum canto e em toda essa aventura, eu estava acompanhado, junto comigo mesmo, conversando comigo mesmo. Era só eu. Foi algo tão esclarecedor quanto um tiro no escuro.
E caminhava olhando a vida passando por mim.
Essa noite, assim como as outras existia um muro. Nesse muro que eu não conseguia pular.
E andei, andei porque o meu lugar nesse território já estava preenchido.
Os meus medos ansiavam as conquistas.
Meus sonhos remava naquela jangada perdida ao mar.
E eu afundava, mas não totalmente. Eu conseguia mergulhar debaixo daquela jangada.
Aquelas bolhas do ar que restava em meu pulmão, sai pela minha boca oscilando naquela água, que chamam a de vida.
Era uma inquietude sem fim.

Somos programados a cair.

Naquela noite em que eu escrevia esse texto, há um tempo atrás. Tinha até esquecido que já havia existido. E esqueci o texto, perdido no vento, como uma folha num acalento. Achei quando vasculhava meus passados guardados em pastas. Resolvi que tinha que terminar este. E aqui estou em uma noite daquelas "Sei lá" terminando o texto de uma noite de inquietudes de outrora. Lá em um passado não tão distante, mês passado.

Hoje eu giz remendos aqui, remendos de esquecimentos.
Tudo culpa de minhas inquietações.

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