Ancorado.

Pra que serve as âncoras, a não ser ancorar, prender às superfícies mais profundas, não permitindo que sairmos do lugar.

Hoje me senti um barquinho veleiro, aqueles ancorados esperando às pressas para navegar. De dia livre nesse mar, a noite preso e ancorado. Infortúnios dessas correntes que cessam ao chãos.
Me sinto como os barcos ancorados nesse imenso e grandioso mar; silencioso e cheio dos segredos e histórias de pescadores. Mar que presencia as mais belas estrelas e luar. Barcos ancorados na marina choram à noite. Um choro sofrido, ritmado pelas cordas e correntes de quem não foi feito para estar preso. Um choro pequeno, cansado e sôfrego como a criança que chora baixinho para não acordar ninguém, para não acordar os adormecidos, com vergonha de sua dor e seus invisíveis resguardados, barulhento assim como as ondas que derramam nas margens suas aventuras e derramam nas margens suas aventuras e histórias vencidas. Às vezes, parece que as águas tentam em vão levá-los embora. Águas compactuam com a vontade de poder ir sem amarras. Elas adormecidas, cansadas de durante o dia correr, balançam discretamente nesse socorro proibido.

E nessa hora os grandes barcos e as pequenas embarcações se encontram nessa tristeza. Por que elas sabem que ganham alma quando estão navegando em liberdade. Porque elas sabem que foram feitos para partir o mar e deixar amores molhados nas correntezas com esperança. E porque sabem, mesmo que seus cascos estejam cansados e castigados pelo sol e pela maresia, que sua vida não floresce quando não se têm horizontes.

Essas noites e seus portos, a ponto de me fazer ancorar.

Ancorado, na plenitude dessa noite e nos pilares da minha vida.


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