Essa chuva tímida...

A chuva vem chegando, devagarinho como quem não quer nada. Vem uma chuva tímida. Mais tímida quanto meus sentimentos. Vem com uma brisa e sua calmaria. Uma tarde de ressaca, ressaca nos intervalos de minhas emoções. Onde a dor se desfaz e também agride aos poucos.

Da música desconhecida que escutavam, perdia-me na melodia, me envolvia no cinza da aquarela dessa tarde e me perdia no entendimento.

A chuva caía tornando em lama o que antes era areia.
Mas é uma chuva em intervalos.
Meus interiores clamam por uma tarde de sol, aqui dentro ainda é enchente.
Almejo a próxima saga. Sem o desconhecido prazer de ser meus sonhos.

Há distâncias maiores a percorrer dentro de nós mesmo. Temos abismos profundos para se jogarmos. Temos labirintos intermináveis para se perdermos. Temos mais becos e ruas sem saídas a serem explorados.

Hoje me calei, calei em meu sentidos e consisti em gritar os interiores. O exterior intriga o quanto é belo por fora, e dar pra ver o quanto é falso em tudo isso. Não é nem convincente pra ser o caos que se corrói.
Dilatando entre as ansiedades dos ventos passados.
Quero ser a chuva que chove nesse verão.
Em um momento saí para fora permitindo que essa timidez em gostas me inundasse por dentro. Por fora apenas o molhado desse tempo.

Do céu acinzentado basta as paredes rachadas. Da lama que um dia foi areia basta esse concreto duro. Da chuva tímida dessa tarde basta os meus sentimentos que dormem. Dos raios de sol desejado basta os horizontes em cores vivas.

Sou feito de emoções e detalhes que poucos entenderiam. Deito, leio, sumo e acordo querendo novas emoções. Não almejo grandes fortunas, nem amores que prometam ser eternos, só quero manter a esperança que ainda há dentro de mim. Eu quero sumir e agarrar esse mundo que me esmaga. Quero que entendam quando o meu sorriso for pequeno. Quero que entendam quando os meus olhos espremerem e as lágrimas se soltarem. Quero que entendam os meus sinônimos quando esconder for necessidade. Mas quero também entender quando esperar for compreensão. Quando a chuva querer ser tímida. Quando a felicidade ser uma busca. E quando o amanhã for hipotético e a noite apenas escuridão.

Pensamentos rodopiavam em meu cérebro. Perdido estava, ou achava que estava. Pra onde eu iria? O que seria?
Ilusões, mágoas, alegrias.
Tudo chaqualhava dentro de mim. Eu estava assim, eu era assim.
Era como se a vida não fizesse nenhum sentido. A vida e suas rodas gigantes me deixa tonto. Entender todas essas voltas me fazia entender que quanto mais eu tentava compreender, mais perdido eu ficava, mais perdido estaria. A vida é como uma poesia que li um dia e que não entendi.
A vida é uma bela e grande poesia que ninguém entende.

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