Essa noite...

Enquanto divagava sozinho entre meus devaneios, mais uma noite chegava.
Essa noite adormecida na penumbra dessas estrelas. Uma noite inebriante e o vento frio que esbarra nas paredes e joga as cortinas à balançarem.
Um vento que arrepia a face, bagunça os cabelos e espreme os olhos. Uma noite fria como as minhas inverdades. É um inverno inteiramente calado entre mim. De um vento que bagunça minhas esperanças e aguça o meu "não quero mais".
Os meus medos ficam a parte. Querer nunca foi poder, mas desejar sempre foi poder.
Dos frios que exalam os sentidos e se perdem nessas esquinas, das vidas que dão voltas em si mesmas, eu escrevo. Escrevo porque escrever os meus sentimentos me torna mais vivo.
Mas quer saber? Eu já cansei. Cansei de permanecer em meio ao vão e as coisas que não se pode ter ou implorar às forças.
Só vou esperar o incerto do tempo, esperar nas coisas que há por vim, sem saber o que. Quero me jogar nesse tempo que na verdade é o risco, e quero ser esse tiro no escuro esclarecedor.
Tenho que dar mais chances a mim do que aos outros.

 A gente perde tanto tempo se culpando pelas coisas que sente, tentando reprimir as expectativas. Que estupidez a nossa, amor não é uma escolha simplesmente acontece.

De burocracia basta os documentos a serem assinados. De permanência basta esses postes queimados. De margens basta o sistema. Da liberdade basta as palavras e o vento solto dessa noite. De prisão basta esse sentimento. De tortura basta essa insônia. Do amor basta a distância. Desses "Adeus" basta os barcos que vão pra nunca mais.

Quero ser o vento que sopra essa noite. Eu aqui deitado nessa rede, balançando e fazendo redemoinhos em devaneios, divagando entre meu silêncio, atordoado nessa espera, espiando as estrelas que permanecem tão perto e tão longe de mim, assim como o amor e a esperança. Eu aqui observando o vento soprar e bagunçar as cortinas e todas as minhas certezas. De perto eu espio o longe, e de longe eu desarrumo minhas vontades.
Dessas folhas que seguem o vento basta os "Até logo".

Nem o caos é tão forte como essa noite...