Pessoas de papel

 "... Uma pessoa de papel. (…) Eu olhava para baixo e pensava que eu era feito de papel. Eu é que era uma pessoa frágil e dobrável, e não os outros. E o lance é o seguinte: as pessoas adoram a ideia de um menino de papel. Sempre adoraram. E o pior é que eu também adorava. Eu tinha cultivado aquilo, entende? Porque é o máximo ser uma ideia que agrada a todos. Mas eu nunca poderia ser aquela ideia para mim, não totalmente."

Nunca pensei que eu gostasse tanto de mistérios, que acabei por se tornar um.
Que coisa mais traiçoeira acreditar que uma pessoa possa ser mais de uma pessoa. A gente é a gente mesmo, em outras formas e situações.
Basta lembrar que, ás vezes, a forma como você vê as pessoas não são realmente como elas são.
Você espera que as pessoas não sejam elas mesmas e acaba por criar personagens que não condiz, ou que apenas é a falta de interpretação do ser.

Ás vezes não somos apenas a gente mesmo, criamos imagens e espelhos a favor de outros espelhos, vozes e rostos. E acabamos sempre em confundir nossa imagem e fechar todas as nossas janelas.
Eu não sou o que realmente eu sou, ou deveria ser. Às vezes até parece que nem eu sei quem realmente eu sou. Mas no fundo, lá no fundo eu sei. Eu sei quem eu quero ser. Só que talvez eu não mostro para ninguém. Talvez eu não seja quem você pensa realmente quem eu sou. Isso tudo acaba por ser tão confuso.
Eu sou uns três “eu”, ou quatro, cinco, vários. Cada um vê em mim o meu espelho, não a minha janela. 

Somos o eco do que imaginamos ser.


“Às vezes não somos aquilo que desejamos ser. Somos o que a sociedade exige. Somos o que nossos pais escolheram. Não queremos decepcionar ninguém, temos uma necessidade imensa de ser amados. Por isso sufocamos o melhor de nós. Aos poucos, o que era luz de nossos sonhos se transforma no monstro de nossos pesadelos. São as coisas não realizadas, as possibilidades não vividas.”

O medo de nos mostrarmos o que somos? A incerteza das reações quando os espelhos verdadeiros realmente virem à tona?
Sempre temos segredos que escondemos para nós mesmos, sempre temos faces que só a gente sabe.

Quando rimos de verdade, quando choramos de verdade, somos a gente mesmo. Quando os sentimentos brincam de ficar aqui e quando tudo transparece cair em cima de você, e quando a sua razão é afundada na areia. Talvez a gente não seja o que deveríamos ser nesses momentos. Somos falsos. Fracos o suficiente para sermos o que não somos. Cada um tem sua máscara, todos têm suas máscaras e serve a seu bel favor.

Eis o que não é bonito em tudo isso: daí de fora não se vê os nossos mais profundos segredos, a poeira ou as paredes que já se racham aqui ou sei lá o quê, mas dá para ver o que é de verdade. Dá para ver o quanto é falso. Não é nem consistente o suficiente para ser feito de plástico. Somos feitos de papel. Quer dizer, olhe só, olhe todos esses sentidos sem significados, todos esses espelhos que não é da gente, mas que o titulo é da gente. Esses espaços dentro da gente que dão voltas em si mesmos, todas aqueles sonhos construídos para virem abaixo. Todas aquelas pessoas de papel vivendo suas vidas se preocupando demais, com besteiras demais, se preocupando com o tudo que é o nada, queimando o futuro para se manterem aquecidas. Todos idiotizados com a obsessão por possuir coisas. Todas essas coisas finas e frágeis como papel. E todas as pessoas também. Vivo aqui durante dezoito anos e nunca encontrei ninguém que se importasse realmente com qualquer coisa. Nunca encontrei ninguém que se mostrasse quem realmente é.

O que eu contei aqui não mostra quem eu sou, exatamente. como diria Eckhart tolle: "Aquilo que vivemos não é quem nós somos, é só nossa história."


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