Uma tarde de calor em raios por correspondências.
Sábado, tarde de sol. O sol enviava raios por correspondências
entrando entre qualquer fresta que queimava em cantos, cantos espalhados por
esse sábado. Esquentava-me o suficiente para ir tomar banho e passar minutos
embaixo do chuveiro, a água estava morna, o sol e o calor desse dia havia tomado
todo o frio das coisas. Eu queria sair para algum lugar, não sair por aí sem
destino, pois com esse calor dar uma certa preguiça de ficar vadiando por aí. Sair
para um lugar com sombra e refresco e só observar esse finalzinho de primavera
e começo de verão se irradiar mais entre a minha vida que seguia ainda um pouco
fria.
Semana cheia, semana quente como esse sol. Hoje eu deveria
estar trabalhando, mas não. Só assim tive a oportunidade de fazer absolutamente
nada e ficar um longo momento dormindo e outro momento acordado na cama. Talvez
pensando na vida, pensando em necessários e desnecessários. Pensava em
problemas alheios. Pensamentos de se aventurara em algum lugar, se perder entre
as minhas limitações, alcançar os meus limites. Hoje eu tive tempo para mim mesmo, sem nenhuma
conexão com algo, apenas refletindo.
Às vezes parece que a sorte esquece de vim. E fico a mercê da
frustação. Inconsequente de minhas ações. Grito alto, mas é apenas um grito no vácuo. Escrever me torna mais quente, não totalmente. mas sinto-me mais aliviado e morno entre as carencias de minha essência morna.
Sinto-me só, estar sozinho de não ter ninguém para me
escutar e entender. Tenho muitas pessoas, poucas se importam realmente com algo
alheio, e fico propenso de estar apenas comigo e meus senhores pensamentos. É época
de natal e tudo transcorre em algum sentido falso e verdadeiro de paz. Sinto esperança
e a descrença na incerteza.
E o vento quente dos extremos desse nordeste esquentando a
vida de quem se ergue, esses extremos que esvai nesse vidro rachando e em nessa
prateleira empoeirada. Essa poeira que embaça a viseira do caminhão que segue
nessa estrada. Os extremos quentes que derrete o gelo e seca as roupas quarando
no varal. O calor alimenta essa sede, essa água que refresca meus interiores e
tudo que há por dentro. É uma tarde de poesia quente que esquenta essas palavras
e que eterniza o horizonte empoeirado. Esses coqueiros altos embaralhando a brisa e empurrando mais a frente todas as correspondências. O céu é como uma pintura contemporânea
monocromática, me atraindo com a sua ilusão de profundidade, me puxando para
cima.
Dessa tarde eu levo o calor, que esquenta a vida lá fora e
se arrasta aqui dentro. Daqui da minha janela refletindo as partituras em correspondências
e observando o que no peito amargurado, embrulhando e juntando em montinhos as
folhas secas de verão. Daqui vamos congelados por dentro e por fora os poros
ardem em calor.
Tarde de raios de calor em correspondências.
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