Amarga e saudável ambição

Acordei e já me encontrei no tédio, entre os lençóis que eu deixava bagunçado com meu sono de meio dia nesse domingo que despertava. Minha mãe chamava para almoçar alegando que eu iria morrer de fome se não levantasse (risos). Levantei e fui diretamente almoçar.
Um domingo que clamava o chão e um pouco mais de sombras em tempos frios. Esse domingo que ventava quente, domingo de muito calor, assim como nos extremos do nordeste. O calor que já deixava a minha vida que acabará de despertar morna. Tomei um banho demorado, de águas fortes penetrando em meu corpo, perfurando os poros e tirando todo o rastro de noite bem dormida, de sonhos indecifráveis. 

O dia lá fora está lindo, céu azul, nuvens soltas, sol irradiando todo o horizonte, pessoas felizes, pessoas saindo, pessoas de rímel borrado e suor esbarrando a face. Isso tudo embelezando o céu, Eu quase me esqueço que a complacência está do meu lado exigindo atenção. Que hoje está em falta. 
Mas toda essa beleza do dia de hoje não me interessa, quero que todo esse calor, sol, nuvens lindas, horizonte convidativo, que isso tudo vá embora. Quero a noite, o friozinho morno de uma noite, ou de um dia frio mesmo. Quero que toda essa luz suma. É, hoje me encontro muito no tédio preguiça de sair, hoje eu estou com preguiça de pessoas, todas aquelas conversas furadas, papos iguais, sonhos iguais. Nada muda. É tipo o texto de outrora que escrevi, e é impressionante esse anacronismo. Eu, nesse vão, olhando o sol de longe. Mas por favor, vou ficar aqui transgredindo essa retrógrada preguiça. NO MEU QUARTO - PREGUIÇA DE PESSOAS.

As luzes refletem no meu rosto tirando a minha concentração. Enquanto alguns se alimentam de ódio, me preparo para juntar os meus pedaços.
Eu aqui, me sentindo como se todos meus amigos me esqueceram, ou me largaram em alguma rua desconhecida. O fato é que eu que me escondi nessa rua. Procuro entre as alegrias passadas o sentido de está bem assim, de estar bem aqui. Sozinho.

O peso desses últimos dias me deixou afogado nessa exaustão. Se eu tenho um disco voador, sinto falta dos pés no chão. Se for tarde tão clara, clamo por escuridão. Desejo muitas coisas dos quem vem até a mim, do avesso. Almejo a próxima caça, desejo o próximo sol, me agarro com a proxima saga. A noite talvez um delicioso vinho. Carrego na minha mala muitos prêmios e conquistas, mas sem atenção e aquela ambição nas que ainda irei ter. Observo de longe o muro, um muro. nesse muro transgride que talvez as nossas lágrimas nem sejam tão importantes. Venho de dias cinzas, venho trazendo meus dedos machucados de tantos tropeços. Mas é aquele ditado né, “Antes o tropeço que impulsiona, do que a mão que só afaga”. Anseio desesperadamente de ir sempre além, e aquela doce e amarga vontade de nunca parar. Jamais esse porto tão sedutor a ponto de me fazer ancorar.


Eu não uso as conquistas do hoje de olho nas que ainda serão. Uns chamam de desperdício, outros de saudável ambição.


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