Minha rotina, piloto automático
Em meio a
infinita escuridão de meu sono, o despertador clareia mais um dia de rotina que
acaba de começar.
O eterno drama de acordar cedo, o sono que esculpe o meu rosto, aquele café quente, faculdade, pessoas novas e tudo que acontece lá fora...
Levanto-me e
abro a janela. A névoa que cobre o horizonte e grita que ainda é cedo, o sol
tímido dessa manhã tão cinza avisando a sonolência desse dia que começa.
O meu tempo
que passou acabam por ficar em meu travesseiro, e ali se refaz. Quando acordo,
sentado na beirada da minha cama, desejando profundamente fechara os olhos e
ganhar mais tempo. Mas como? Se o tempo acabei de matar. Sentado torturando
essas paredes que parecem querer me aprisionar, em meus lençóis o medo de
adormecer e perder o tal tempo que nem tenho mais, em minhas chinelas o medo de
se gastar.
Eu nunca fiz questão de estar aqui, nem participar e ainda
acho que o meu piloto automático vai me cansar, ainda acho que essa rotina vai
largar.
Um banho frio, um café que esquenta e me desperta, um pão
quente e a correria para não perder a hora. Água na cara e partiu, atrasado e
com muita fome, correr para parada, ônibus lotado, olhares cansados de algo que
ainda vai começar, pessoas como se estivessem indo ao abate. Os perfumes e
corpos que se misturam em meio ao balanço do ônibus. A paisagem rabiscada pelo
movimento do veículo ligeiramente caótico.
Entre a janela eu observo o tudo que vai além do meu dia, as
coisas que também seguem lá fora, das vidas sossegadas, das vidas atormentadas,
das vidas que ninguém vê. A massa em seu cotidiano. Prédio nos céus de suas
riquezas, sobrados no inferno de suas pobrezas.
Esse mês eu não tive muito tempo para escrever no blog,
começo de faculdade, nova rotina, outros rostos, outros olhos, novos mundos,
outras vozes, interagindo e me modificando.
Na minha sala meus olhos encontram olhares novos, primeira impressões
são de pessoas legais e regidas por uma única vontade, pelos sonhos e
semelhança desse curso. Na gana de um
futuro satisfatório.
Somos jovens, e quando somos jovens queremos ser apenas nós
mesmos, queremos viver, experimentar o novo. Mas tudo se desfaz a partir de
quando temos que lidar com as responsabilidades de ser 'adulto', com as
responsabilidades de se enquadrar numa sociedade e em um futuro. Não digo que é
algo ruim, mas tem gente que se perde pelo caminho.
As aventuras ficam amenas. A vontade, Isso nunca se desfaz.
Enquanto há desejo não há paz.
Sexta feira, a tarde. Voltando para casa.
Surpreendentemente, o ônibus não estava lotado como sempre fica, mas ainda
assim estava bem cheio. Nessa ocasião, o melhor a se fazer é caçar o lugar
vazio e forjar um coma induzido se necessário. Se tratando de um ônibus cheio a
esse horário e neste dia da semana, é muito fácil ver gente cansada, judiada pela
vida, suada e nada gentil sentada nos bancos e querendo mais que tudo sua casa,
ou barzinhos ao vivo com boas companhias e ótimas bebidas. Ou apenas o conforto
de sua cama e cafezinho quente. Desejando a noite que costura o dia que vai
embora, o tempo que mais uma vez se desfaz.
Eu não. Hoje eu só quero minha casa, sem amigos, bebidas,
sem farra. Só eu, eu e meus filmes e a imensidão desse fim de tarde.
Comentários
Postar um comentário