Uma fresta de luz


Duas linhas horizontais, duas pancadas, surras a me atingir. Eu vinha desprevenido e quando vi o último nocaute foi no centro. Preferia ter sido uma dor física, a dor do peito de fora não se assemelha com a de dentro, a ferida sangra, o meu chão saiu, o mundo passa tão lento. Hoje a minha alma parece um jardim de cactos.

Uma fresta de luz, sombra em horizontal, janela em riscos. Eu continuava apreciando a beleza daquele freixo mesmo que não existisse nada fora do comum. Mas a vida tem esse seu jeito de espalhar impressões, esse jeito de um modo estranho fazerem as coisas banais de alguma forma terem sentidos. Mesmo quando o corpo não representa a imundície que lhe representa por dentro. Triste jeito de viver a vida, de passar por coisas que não são conduzidas por esse corpo arrependido que agora pede socorro pra si mesmo.

Ou talvez eu tenha inventado toda essa narrativa pra dar sentido à fresta, a invasão tímida como se não almejasse nada, mas tomou muitas coisas, inclusive uma vida. É como querer andar nessa jaula em que colocaram o leão, que por puro instinto só queria caçar


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