No meu quarto. (Preguiça de pessoas)


"A caixa de sombra se abriu foi um maremoto atrás do outro. Ferro na jugular tirando tudo do lugar.
Se coisa ruim faz a gente crescer e todo esse clichê.
Já nem caibo mais na casa não caibo mais aqui..." - SETEVIDAS

Ultimamente ando meio que "anti-socal", ando com algum tipo de falta de expectativas nas coisas e no dia que eu tenho que ser algo, e acabo por me prender em meu quarto e ficar esses dias numa rotina de acordar e ficar nele o dia todo, faço alguns afazeres e volta pro quarto, almoço e volto pro quarto, vou ao banheiro e adivinha? Volto pro quarto.
Talvez o meu quarto seja o único lugar em que eu me torno prisioneiro da minha minúscula liberdade.

Enquanto devaneios constrói as paredes do meu quarto, eu apenas abro os olhos e me espreguiço entre minhas cobertas. Ventilador ligado, janela e porta fechadas. Lá fora o dia é lindo, não importa, aqui nessa caixa onde me prendo não tem dia nem noite. Ta calor, eu tomo banho e volto.
Meu ventilador sopra um vento quente, como os ventos que sopram o sertão.
No sertão de terra sofrida e seca de coisas mortas do tempo. Assim como anda na minha vida.

Não é que eu fique aqui porque são as condições que tornam as coisas assim, mas sim porque às vezes prefiro trancar-me em meu quarto e alternar o meu dia entre ler bons livros e mexer em meu celular, conversar com alguém, amigos, também porque sinto a necessidade de rir um pouco, sentir alguns sentimentos a mais que acrescente nessa minha rotina monótona. Sei lá. Às vezes a vida é tão monótona a ponto de a gente fazer várias coisas e ao mesmo tempo nada. É toda torta a sensação de construir o seu dia entre feitos e compromissos, arrumações, festas e farras, alegrias e sonhos simplórios. E chegar no final e não ter acrescentado nada em sua vida, a tortura de deitar-se em seu travesseiro e ele pesar uma tonelada, alma vazia, pensamentos cheios.

Ultimamente ando com algum tipo de "preguiça". Preguiça de sair e conhecer as pessoas. Estou numa fase claramente "chata" de achar todos chatos. Até eu.
É sempre as mesmas conversas que não chega a lugar nenhum, são sempre os mesmos argumentos, mesmos pensamentos insuportáveis. Tudo igual. Todos igual.
Aquela sensação de que as pessoas estão todas iguais, pensando da mesma forma, agindo do mesmo jeito, sofrendo igual, sorrindo igual.
Chega a ser previsível seus atos, o que vão fazer, onde querem chegar.
Todos com os mesmos sonhos.
Manias, desejos.
Preguiça de sair em encontros, e sempre ter o mesmo papinho e chegar sempre a lugar nenhum.
São sempre os mesmos beijos longos e nada intenso, os mesmos abraços e calor.
Parece que a próxima estação nunca mais vai chegar. Parou nessa e ficou.
Na verdade, eu acho que as pessoas parecem todas iguais pq todas estão muito superficiais e imediatistas. Poucos pensam a longo prazo, por isso os objetivos parecem todos os mesmo.
Nada vai pra frente, nada evolui.

Talvez o motivo seja por eu ser muito pretensioso a ponto de nem me reconhecer mais.
Eu amo as pessoas, de verdade, todas com os seus jeitinhos de levar a vida. Mas essa semana me encontrei nessa fase chata, de "ter preguiça de conhecer novas pessoas". Logo eu que amo criar novos laços.

Estou precisando nutrir pessoas diferentes, diferente até de mim mesmo.
Pessoas que arrisque qualquer aventura, que quebre o tempo. Hoje em dia as pessoas estão muito preocupada com os relógios, verdadeiros prisioneiros dos ponteiros.
Pessoas que puxem ao desconhecido sem temer o nada.
Vontade de ter meus próprios sonhos.

E sempre a mesma graça de encontrar e desencontrar pessoas. Esse lance chato de perder as pessoas e o lance bom de encontrar outras que vão ir embora com o tempo. E assim vai...

Ultimamente não sinto falta do passado, tou começando a sentir saudades do futuro. Desse futuro doce, amargo e incerto.

Acho que todos já passou por essa fase, ou ainda vai passar. Enquanto ela não passa, permaneço aqui. Preso nessa caixa. No meu quarto. Tornando as paredes minha liberdade.

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