Eu te amo calado - Dor e ilusão

                    "Eu te amo calado, como quem ouve uma sinfonia feita de silêncio de luz."
- Outono de 1998 em Maceió.

Eu te amo. Devaneios de tua pessoa me assombram e circulam entre mim.
No escuro apenas eu. Eu e meus pensamentos de você.
Mas amo em batidas de coração. Silenciosamente e barulhenta.
Como o som dos pássaros na primavera.
Não se é retribuído.

E inexpugnável esse amor.
Invencível, que não se pode vencer ou conquistar através das minhas forças.
E não se pode vencer com razões, promessas ou ameaças.
A virtude é inexpugnável.
Inconquistável. Diz-se de cidades ou posições que não podem ser invadidas ou tomadas: fortaleza inexpugnável.
Um sentimento corajoso, destemido.
Tenho medo. Medo das respostas e reações de uma ação inconsequente.
Permaneço calado nesse meu mundo insolúvel.

As nossas imperfeições juntos nos tornam perfeitos.
Não deveria ter agido assim.
Mas por muitas às vezes tudo é tão estreito.
Só queria mais uma dose de você.
Mas por hoje eu não posso.

O culpado é quem foi ferido. Culpado por deixar que a flecha invadisse o seu peito.
O seu sangue foi derramado no chão.
O culpado foi quem se atirou em meio ao tiroteio. Quem atirou virou inocente.
Quem se sente derrotado é aquele em que na cama coberto de uma madrugada sofre.
Mas sofre calado. Calado como o amor que foi derramado. Que desvairou na lacuna de seu acaso.

O amor acontece sem avisar, acontece sem reticências...
Reticências... Talvez elas já não façam mais tanto sentido...
O sentido apavora a essência.

Eu te amo calado. Como aquelas notas falsas, que oscilam entre essa sonoridade sem som algum.
Um infinito vazio é assim que me sinto.
Perdi-me novamente, parece que não me canso.
E vou caindo como uma folha cessando na terra úmida.
Nessa sinfonia silenciosa, eu me perdi.
Procurando sentidos às cegas. A visão e plena, a cegueira consequência da luz.

Com o passar das lágrimas, e das pulsações sem ritmos, nos acostumamos a não ser prioridade para ninguém. Se é que algum dia foi. Aceitamos sentimentos parcelados, amores pela metade, faíscas apagadas de uma fogueira em brasa, conformar-se ocupar uma opção pra lá da décima posição. Estamos fadados ao contentamento insatisfatório. Aceitamos a dor para não morrer sem sentir nada. Aceitamos a dor pra não morrer no seco, não se afogar no vazio. Não lamentar a sede de mais uma dose.
E aceitamos calado, porque gritar fere a garganta e queremos estar intacto para não demonstrar fraqueza.
Somos seres fortes aos nossos espelhos, espelhos que refletem sorrisos enquanto do outro lado chora.
Por dentro vai corroendo o que por fora é forte.

O êxito do fracassado é ser aplaudido de pé e ter o ego farsante alimentado.
Morrer de amor é lindo, mas morrer de amor mendigado é desesperador. Por isso que me rendo. Fraco e decadente seguindo mais um caminho perante toda essa falácia.
Mesmo assim vemos diariamente pessoas morrendo por engasgarem-se com migalhas de sentimentos.
De sentimentos não correspondidos. Sentimentos que o vento deveria levar logo.

Agora eu não amo mais!
Quem dera fosse desse jeito...
Eu ainda te amo. Mas amo calado, adormecido nessa sinfonia de notas sem sons.
E espero que venha logo esse vento que leva essas coisas em redemoinhos pra bem longe.
Não somos instáveis a ser blindados a esse tipo de coisa.
Somos seres de carne, osso e coração...

Eu aqui pintando o meu território enaltecendo minhas escritas em sentimentos. Escrevo também para alguém por aí, escrevo por mim. Escrevo porque me é conveniente em torno desses devaneios.
Faltou-me a fala, mas me restaram as palavras. Que são frondosas.
Em cada linha transcrevo o que o coração cansou de sentir.
Ciente também que eu escrevo apenas alguma ilusão da minha cabeça por sofrer adiantado por algo que nem aconteceu.
Talvez esteja enganado.

Escrevo porque a única saída do labirinto é pelas curvas das minhas palavras que mais aparentam serem tortas, onde eu vejo uma luz no túnel de decepção que se tornou minhas madrugadas solitárias. Com o teclado do meu celular eu rompo as fronteiras de minhas lamentações. Minhas limitações são cadeias.
Eu me sinto vivo. Não me sinto bem, mas sinto minhas pernas e minhas mãos. Eu, que já não sentia nada, agora sinto a dor em seu formato mais belo: poesia.

Comentários

  1. "Agora eu não amo mais!
    Quem dera fosse desse jeito...
    Eu ainda te amo. Mas amo calado, adormecido nessa sinfonia de notas sem sons."
    Adorei essa parte...
    Costumo dizer que não há amor sem dor e, claro, não poderia deixar de citar isso. O amor vem carregador de dor e alegria ao mesmo tempo... Esse texto traduz muito dos meus sentimentos relacionados ao amor. Eu amo o amor, mas as vezes o odeio quando ele me traz mais sofrimento que felicidade. Eu diria que o amor é uma faça de dois gumes, cabe a nós saber
    manuseá-lo. Encantada... 😍😍👏👏👏

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