Fotografias

Gosto de capturar as coisas mais simples, gosto de ligar o flash no escuro, gosto de encaretar em fotos frontais, gosto também de revelar os momentos, de capturar as histórias.
De sorrir em fotos.
Gosto de sair em fotos com meus amigos, de eternizar os momentos e depois observar com sorrisos estampados.
De olhar perante essas pinturas reais e ver um filme do dia capturado.
De me misturar entre os sorrisos espontâneos ali modulado.
Fotografar é como se a gente tivesse o controle de pausar o tempo em nossos olhos, sendo ele algo que nunca se pausa. Mas poder ver a foto, ali, pausadamente memorável.
A melhor fotografia é aquela que você sorri junto com cada flash.
Enquanto eu me perdia meus olhares em fotografias antigas, me perdia  sorrisos costurados, a essa pausa eterna da memória, que a chamam de fotografia. Pude ver além dos sorrisos jogados ali, histórias, momentos em que eu vivi, o que escondia atrás daqueles sorrisos.
Fotos moduladas pelo tempo, daquelas fotografias que sua família guardava em álbuns para se poder ver depois, sorrir e lembrar dos momentos naquela pausa de momentos. De poder mostrar aos conhecidos, de guardar em envelopes e mandar para parentes distantes, algumas fotos com frases e pensamentos consumados atrás da foto para que permitam transmitir o sentimento que a traz.
Hoje em dia não tem mais isso, são raros os que ritualizam dessa mesma forma. Hoje em dia é tudo tão tecnológico que perde todo o encanto e magia de álbuns desses momentos. Tudo é jogado nas redes sociais para que milhares de pessoas vejam, tudo é tão mais simplório.
Eu mesmo me rendi a essa armadilha tecnológica.
Aquela magia de se arrumar em um dia de domingo com suas melhores roupas, sua família chamar um fotógrafo para realizar as pausas memoráveis, e depois de alguns dias chegar em um álbum todas aquelas lembranças vividas naquele momento... Coisas que o tempo levou e deixou em algum passado distante.

Existem os albuns também, guardiôes de memórias. onde nele podemos guardar todas nossas lembranças capturadas. São álbuns desordenados. Como são as vidas. Essa é, em parte, a diferença entre a vida e a literatura, onde os personagens, por mais irreverentes, têm todas as saídas e as entradas em cena calculadas, fazem todos um sentido na trama. Na vida, não. Rostos somem e outros aparecem, e outros que sumiram reaparecem mais tarde, e outros nunca mais. E poucas vezes esse entra e sai faz algum sentido, porque na vida tudo é caos e descaminho, tudo é encontro e desconcerto.
   A existência, toda e qualquer, é uma mera alternância entre a vida e a morte, entre crianças e velhos. Uma sucessão de nascimentos e enterros, os enterros para lembrar a finitude, e os nascimentos para garantir que a natureza se refaz. Onde o tempo obedece não à linha reta da aspiração humana, mas ao circulo de uma sabedoria mais antiga. Um álbum em círculos povoando a linha de uma, de várias vidas entrecruzadas. Casamentos, colheitas, batizados, copos-de-leite, enterros, gaitas, crismas, bicicletas, saudades, veraneios, colares, folhas caindo, um sorriso congelado, devaneios... Detalhes corriqueiros. Tão pouco, tudo.

Hoje em dia as fotos significam mais como concorrência de quem sai melhor, concorrência de caretas, do melhor efeito, sorrisos moldurados a sentença de um feito qualquer. São raros os que fazem diferente.
Que haja a simplicidade de um sorriso pintado nas fotos.
Que tenha momentos felizes e memoráveis capturado em fotos para serem observadas em um futuro tão próximo.
Que os momentos sejam mais para ser capturados e lembrados.
Menos caretas! Mais sorrisos escancarados.
Mais pausas reveladas e tocadas a mão.
Fotografias de um tempo.
Fotografias, são meras fotografias.
Esboçam memórias de momentos, de histórias, de vidas.
Flashs de momentos.
Momentos à serem revelados.

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