Marcas
O que se esconde através dos sorrisos?
Através dos olhares?
Certa vez observava olhares desconhecidos,
aqueles que pintam e se misturam a multidão, olhares perdido em imagens,
olhares que bordam a face dos homens. Olhares que interpretam uma vida, olhares
que escondem marcas, marcas do tempo.
Eu estava sentado no banco da praça,
enquanto curtia aquela noite de sábado com meus amigos, nesse dia eu estava
calado, meus pensamentos travavam uma guerra em minha cabeça e seguiam ali em
uma louca dança. Meus olhos corriam entre os outros ali, inclusive entre os
olhares conhecidos. Mas o que mais me atraia eram os desconhecidos, neles eu
podia perguntar-me o que se escondia através daquelas pupilas, existem aqueles
olhares que logo de cara você vê que o dono sentenciou ao que viu e se mostra
olhares cansados e mortos. Desacreditados. Existem também aqueles olhares
negros, que quando esbarramos sentimos penas de todos os sonhos assassinados,
aqueles olhares negros preenchidos pelo mal.
Existem
aqueles olhares de gelos, que congelam aqueles que tentam decifra-los.
E quando
esbarramos naqueles que é vivo e alegre percebemos o quanto o dono sentencia a
felicidade, mesmo que venham de tempestades e me vêm a vontade de grudar e
conversar entre piscadas e juntar-se aos meus.
E os
sorrisos?
Sinto-me
bastante atraído naqueles sorrisos vivos de alegria, daqueles que lhe contagiam
em um ritmo gostoso, em uma dança contagiante.
Daquelas
pessoas que só de ouvir o sorriso percebe a simplicidade.
Mas têm
aqueles sorrisos falsos, aqueles gananciosos demais, aqueles sorrisos mortos,
que tentam enganar alguém, aqueles que eu sinto nojo, aqueles que dissimulam o
ser, tão simplório quanto o escuro.
Tenho um apreço por olhares e sorrisos
sinceros, ou não, neles onde são escondidos todas as nossas marcas da vida e do
tempo. Nesses dois sentidos que embalam a interpretação de nossas vidas.
Acho muito importante termos marcas, pois
são elas o que nos tornaram o que somos hoje.
Tudo que
consegui na minha vida foi como o olhar minucioso do gato, que muda ao favor do
tempo e sigiloso e misterioso agarra suas presas.
"Como arte e o
vinho se valorizam com o tempo, assim é a vida de quem já viveu sem o medo de
sorrir. Sei que adquirimos experiência a cada lágrima derramada, a cada
cicatriz cauterizada e a cada palavra que não precisava proferir.
Marcas mentais se
tornam o algoz de quem não se permite evoluir."
Eu cansei de tentar
curar as marcas e feridas que não se curam, que não desaparecem...
Tenho
orgulho das marcas que o tempo fez em minha pessoa.
Orgulho do
meu coração que, mesmo já tendo se desmanchado em mil partes,
ainda bate.
Orgulho dos
meus remendos das cicatrizes e mesmo das feridas que ainda estão abertas.
Orgulho de
todos os sinais de que a felicidade passou por aqui.
Também tenho
orgulho de todas as tempestades que passou aqui deixando uma destruição, que
com ela aprendi a me proteger, que com ela aprendi a abrir o guarda-chuva, que
com ela aprendi a olhar pra frente.
Se há alguma
marca em nossos olhares e sorrisos, é porque o sentimento valeu realmente a
pena.
O coração
tem marcas, e ama a cada dia mais.
A nossa alma
é feita de remendos e costuras.
Luto para
que o passado não seja um fantasma agourento na vida, e que eu possa olhar com
esses olhos minuciosos as minhas marcas e sorrir com um sorriso costurado de
canto a canto.
Não tente curar com um band aid o que se
foi profundo.
Em meu sorriso está guardado centenas de
lágrimas jogadas.
No meu
sorriso esconde todas as minhas tristezas, todas as minhas marcas.
Só aquilo
que é verdadeiro é capaz de deixar alguma marca, por isso me orgulho muito de
cada ferida curada ou ainda exposta que o meu corpo traga perante esse caminho.
São os
tombos, arranhões, tropeços e decepções que fizeram de mim quem eu sou hoje.
E o que em
mim torna a minha vida.
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