Coisas de uma tarde...

Uma tarde de Devaneios!

O céu vestido de um laranja pêssego, as nuvens lentamente se dissipando nessa tarde levemente sossegada.
O meu desejo é de montar essa tarde em palavras, em assobiar os sentidos desse inverno ensolarado.
Na rede observando essa tarde, deixando-se embalar com os pássaros lá fora, cantando a natureza que os envolve, assobiando a vida que segue aqui em baixo, voando de um lado pro outro, deixando com inveja quem não pode voar. Eles cantam uma música envolvente e saborosa aos ouvidos que se permite entender. Em seu show particular eles embalam o sol que mais tarde desaparecerá dentro das montanhas e horizontes ao norte.
Na bluma leve desse sol que vai se pondo, me trazendo um sossego fluvial, despertando um desejo de sair correndo entre o campo e cantar como os pássaros dessa tarde, que sinceramente tão dando um show.
O sol quarando as roupas no varal, que intimamente secam lá fora. Varro o quintal, limpando as folhas que caíram da árvore por causa da chuva hoje cedo. Quero ser o sentido dessas folhas que cessam de seus topos e arriscam algo perigoso e se aventura ao desconhecido, de vencer a vida e depois cair, sossegado.
De pintar o chão desse inverno de folhas seca, despertar a vontade de pular e bagunçar tudo, causando redemoinhos, apreciar elas caindo novamente, devaneios de um outono que embalavam inocência à muito tempo atrás...
O cheiro da terra molhada que desperta devaneios de um lugar no passado, só meu...
Essa tarde que ilude a liberdade. Espaços imaginados de rotina que respira.
De problemas, que por esse momento se tornam invisíveis.
Fechei a janela do meu quarto, fechei a cortina, não sem antes tentar entender a imensidão dessa tarde e a pequenice da gente.
Devaneios de quando criança tomar banho de mangueira por essas horas no quintal, guiando o sol indo embora e sentindo aquele frio me embalar, gritando que a noite já vem, vendo minha mãe colocando a água pra esquentar.
Se trocava e ia sair com os amigos para brincar de coisas de crianças. Hoje não tem mais isso... Só tem saudades desse tempo em que eu era tão inocente. E hoje eu aqui embalado de problemas, de angústia, esperando a noite chegar pra fazer algo mais interessante.
Quero tomar um saboroso vinho no jantar.
Com a música dos pássaros envolvendo a melodia dessa tarde.
Quero sair pra dançar.
Tou quase pronto, e eu não faço ideia pra onde vou.
As mesmas coisas de sempre. Confortos e cheiros. Nada mais nos torna estranhos. Nada mais nos deixam diferente. Nada mais nos faz distantes, mesmo que as lembranças dessa tarde, permita que o tempo nos leve pra longe.
Os ventos que sopram nos extremos, tocando em nossa pela, arranhando a nossa face, respiramos a ilusão da liberdade.
Porque mesmo que o sopro do vento não tremule uma bandeira, a ventania de desejo pode derrubar distâncias.
Telhados quebrados que imendam a vida de quem se concerta, muros que necessitam de um cimentado, matos que cobre essa imensidão.
Perante essa tarde vou gritando em silêncio, através das palavras que se acomodam em mim.
Hora de chorar baixinho, de admitir saudades, abraçar devaneios, de pedir piedade ao tempo que não deixa de correr e escorrer-se em minhas mãos.
A solidão mora ao lado do caos. Estar só não significa não estar com ninguém.
Quero pegar carona com o vento, que fazem bagunça em nossa vida, em nossos cabelos, viram água calada nos mais fundos olhos e se misturam com os cheiros de nossa pele.
A vida aqui fora continua a mesma, o caos de sempre.. E eu.. Aqui.. Escrevendo e pintando essa tarde, que para as outras pessoas, só mais uma, insignificante...
Agora já vem chegando a noite...
E a lua, a lua é cheia, é encomenda dos amantes para iluminar as noites compartilhadas e a esperança de quem deseja com a força das ventanias.
O horizonte fica à parte.
Pra mim foi uma tarde repleta de devaneios.
Simplesmente,
Coisas de uma tarde...

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