Permanência

"Uma árvore transplantada nunca enraíza da mesma maneira..."
E os galhos se atrofiam.

     Na minha cabeça forma-se um turbilhão de dúvidas, duvidas que acarretam uma bagunça mental sem fim.

Será que devo ir embora, ou permanecer aqui?

Arriscar algo radical, porém incerto, ou devo arriscar algo com calma e que me permita enxergar as circunstâncias.

Tentar algo sem certeza do que eu quero mesmo pra mim. É como esboçar uma vitória frustrante.

É pisar em um abismo sem mesmo entender o por que. É se enterrar numa felicidade calculada.

Há muito tempo tinha certeza do que eu queria, tinha uma meta à atirar. Mas o tempo tratou de montar um quebra cabeça novo em meu território. Tentei debulhar esse quebra cabeça da vida, mas não teve jeito ele já estava montado em mim, há muito tempo. Eu não me permitia enxergar lo. Era como uma sombra no escuro, e então acenderam as luzes e travou em mim as asas. 

Nem imaginava que iria chegar essa hora. E furmegava um vazio de pó. Era tão disperso. Não via que o futuro era EU quem fazia e nem tinha percebido na época, que o fracasso me subia a cabeça.

O tempo é incerto das coisas, mudamos a cada chegada de estação.

Eu tinha um pensamento muito conturbado das coisas, e em algumas ainda tenho, mas percebi que vivemos pra isso. Pra descobrir horizontes plantados em nosso interior.

É preciso debulhar esse quebra cabeça da vida, sim. Mas é preciso também monta-lo, peça por peça. É um quebra cabeça sem fim. Às vezes perdemos as peças. Mas como o vento trata de levar o pólen pra longe, ele mesmo trata de trazê-la de volta.

A permanência consiste em uma raiz.

'O tempo é o inicio da permanência e o fim de toda transformação. '

Nesse meio tempo que é meu, o amanhã está sendo plantado. As escolhas que você faz, as escolhas que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você aprisiona, os amores que você ama, tudo será determinante lá na frente. 

Felicidade talvez seja isso: alegria de recolher da terra o que somos, frutos que sejam agradáveis aos olhos! Aos nossos olhos que veem tanta coisa nesse mundo.

A permanência se quebra nesse chão, voar implica em quebrar asas.

Voltar não é a mesma coisa de ir.

As coisas mudam a favor de suas escolhas. E somos prisioneiros de escolhas.

Ter a certeza possa não ser tão sábio, pois a sabedoria consiste em não se apegar em certezas. A sabedoria se esconde na dúvida.

Somos o constante rebelde do tempo.

O tempo é fúnebre de ponteiros.

A vida escorre os sentidos. Os sentidos nos tornam. A essência é o alimento da alma.

Permanecer não significa em continuar a mesma coisa. Porém consiste na mudança de acordo com suas raízes.

Costurar o tempo implica em não viver.

Ele tem que ser livre pra montar esse quebra cabeça.

As únicas pessoas completamente constantes são os mortos.

Estado de morte é permanecer em um estado sem sentidos, sem placas, sem direção, sem lanternas.

A felicidade se nutri do alimento do cuidado, da permanência, da reinvenção. As pessoas procuram reinventar sentimentos, para que não se percam na esquina da mesmice.

Mesmo permanentes podemos voar! Temos asas pra isso. Então voa, voa à procura das peças perdidas que faltam em seu quebra cabeça.

Se limitar em seu telhado não se permite sonhar.

Então permaneça também em seu vôo.

"O poder de nosso destino está em cada decisão de coragem que tomamos."