Voar, Apenas pra corajosos
Ainda pensando sobre o tema do outro texto, resolvi escrever
esse...
Ultimamente pensando muito na questão de ter que partir, de
ter que voar, e ter que largar tudo que você havia construído e tentar algo
novo, porém incerto.
E nesse meio aparece o medo, o medo de voar e não conseguir
aterrissar, o medo do incerto, do inseguro, medo do desconhecido. E então nos
mantemos prisioneiros das raízes que nos prendem ao chão.
Hoje sei que o medo nada mais era do que fruto da minha
(nossa) obsessão em medir ações e ser assertivo. E foi só com o tempo e com as
chances que me dei que descobri que não há nada mais libertador e esclarecedor
do que o bom e velho tiro no escuro.
Do atentado desconhecido, dos horizontes que leve aguardam.
Outrora usava o termo "Voar", metaforicamente, no
sentido de sair do chão e caminhar no escuro em procura da luz, de atirar em
seus sonhos e correr atrás deles, de ir em busca de um horizonte, sem medos de
barreiras.
É arrebatar os seus sonhos, e expandir seus conhecimentos.
Hoje eu percebo que só se permite voar, é apenas aqueles que
obtêm o passaporte.
Apenas os corajosos que enfrentam o desconhecido.
O ato de partir é necessário pra você perceber quem sempre
esteve ao seu lado.
Sentir saudades é normal, mas com o tempo o vento leva...
Pra aquelas pessoas que eternizam um drama em sua cabeça,
por ter conseguido partir, pare!
O que fica não morre, o que fica se conforma e amadurece, o
que fica é o que vai mudar, estando você lá ou não. O que a gente deixa pra
trás é apenas o que já mudou muitas vezes com outras partidas.
Se o que fica pra trás é independente da sua ausência, então
pra quê ficar se lamentando o que deixou pra trás?
O que interessa agora é você rema na construção do seu
amanhã, de colocar os pés no chão, mesmo que o caminho seja de pedras, caminhe.
Com força.
Pense em primeiro lugar em você, depois no que você deixou,
porque o que ficou vai mudar, vai crescer.
Chore! Mas chore muito, chorar também é necessário, mas não
se aprisione nessa tristeza.
O que importa é o seu futuro. A vida é construída de
chegadas e partidas e temos que nos acostumar com isso, somos obrigados.
Já que você partiu, mude também.
Nada gira e acontece ao seu redor, nós somos o redor das
coisas que acontecem. Nada vai parar se você partir. Somos seres descartáveis.
Porém ninguém é insubstituível.
Somos paradoxo da vida.
"Voar: a eterna inveja e frustração que o homem carrega
no peito a cada vez que vê um pássaro no céu. Aprendemos a fazer um milhão de
coisas, mas voar… Voar a vida não deixou. Talvez por saber que nós, humanos,
aprendemos a pertencer demais aos lugares e às pessoas. E que, neste caso,
poder voar nos causaria crises difíceis de suportar, entre a tentação de ir e a
necessidade de ficar."
E assim começaram a surgir os corajosos que deixaram suas
cidades de fome e miséria para tentar alimentar a família nas capitais, cheias
de oportunidades e monstros.
Aqueles corajosos que obterem viajem ao desconhecido.
RELAXA! O PARAÍSO NÃO TEM DONO!
Os corajosos que deixaram o aconchego do lar para estudar e
sonhar com o futuro incrível e hipotético que os espera. Daqueles que mesmo com
medo decide arriscar.
Os corajosos que deixaram cidades amadas para viver
oportunidades que não aparecem duas vezes. Os corajosos que deixaram, enfim, a
vida que tinham nas mãos, para voar para vidas que decidiram encarar de peito
aberto.
A vida de quem inventa de voar é paradoxal, todo dia. É o
peito eternamente divido. É horizonte eternamente dividido.
É as barreiras interrompidas entre o ir e voltar.
É chorar porque queria estar lá, sem deixar de querer estar
aqui.
É ver o céu e o inferno na partida, o pesadelo e o sonho na
permanência.
É se orgulhar da escolha que te ofereceu mil tesouros e se
odiar pela mesma escolha que te subtraiu outras mil pedras preciosas.
E começamos a viver um roteiro clássico: deitar na cama,
pensar no antigo-eterno lar, nos quilômetros de distância, pensar nas pessoas
amadas, no que eles estão fazendo sem você, nos risos que você não riu, das
histórias que você não vai fazer mais partes, nos perrengues que você não
estava lá para ajudar.
É tentar, sem sucesso, conter um chorinho de canto e
suspirar sabendo que é o único responsável pela própria escolha.
No dia seguinte, ao acordar, já está tudo bem, a vida
escolhida volta a fazer sentido. Mas você sabe que outras noites dessa virão.
É aquele momento de ver sua vida deixada pra trás, das
histórias que você fez parte, de ver as pessoas crescendo, conhecendo outras,
esquecendo você a cada mês que passar, como o vento que debulha o pólen das
flores.
De ver as pessoas que você amou, com outras.
De estar longe sem poder comer o bolo de conhecidos em seu
aniversário.
De ver os passeios de seus amigos, sem você presente.
Da sua família crescendo longe de seu toque.
E chorar... Nada mais que isso.
Mas será que a gente aprende? A ficar doente sem colo, a
sentir o cheiro da comida com os olhos, a transformar apartamentos vazios na
nossa casa, transformar colegas em amigos, dores em resistência, saudades
cortantes em faltas corriqueiras?
Será que a gente aprende? A ser filho de longe, a amar via
Skype, a ver crianças crescerem por vídeos, a fingir que a mesa do bar pode ser
substituída pelo grupo do whatsapp, a ser amigo através de caracteres e não de
abraços, a rir alto com HAHAHAHA, a engolir o choro e tocar em frente?
Será que a vida será sempre esta sina, em qualquer dos lados
em que a gente esteja? Será que estaremos aqui nos perguntando se deveríamos
estar lá e vice versa? Será teste, será opção, será coragem ou será carma?
Será que um dia saberemos, afinal, se estamos no lugar
certo? Será que há, enfim, algum lugar certo para viver essa vida que é um
turbilhão de incertezas que a gente insiste em fingir que acredita controlar?
Eu sei que não é fácil. E que admiro quem encarou e encara
tudo isso, todo dia.
O preço é alto. A gente se questiona, a gente se culpa, a
gente se angustia. Mas o destino, a vida e o peito às vezes pedem que a gente
embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos
livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estamos para sempre livres do medo de
nunca termos tentado.
Tentar e rabiscar o horizonte vasto de tentativas.
Chorar faz parte, transbordar saudades entre aquilo o que um
dia já fez parte.
Lembrar-se daqueles que foram embora e de quantos já
chegaram.
De sofrer pra conseguir.
De ver o mundo crescendo ao seu redor, enquanto você
continua plantado.
É chorar a ida e sorrir na volta.
Grita no vazio. Atirar no escuro. Pisar em um abismo
diferente.
Ter asas e voar!
Olhar encima do avião o quanto as coisas são minúsculas.
Voar, apenas pra corajosos.
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