Mais uma chuva...

"Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite."
Clarice Lispector

Deitado em minha cama, no meu quarto onde as paredes que o tornam, confidentes de segredos, confidentes de choros guardados em minhas pupilas, onde o escuro torna tudo mais atormentador. Me encontro perdido entre meus pensamentos,  é madrugada, começo a escutar a chuva sobre o meu telhado, me encolho entre meu lençol, me aconchego no morno do meu travesseiro, e aí onde as lembranças, perguntas, respostas, pensamentos, tornam um barulho trivial em minha cabeça que agora grita muito.
Choveu o dia todo, permitindo que eu me recolhesse em meu canto de pensamentos.
Estou passando por uma "fase" complicada, onde me encontro frágil, inútil e inválido, sinto que meu tempo escorre entre meus controles bloqueando que eu pudesse ter algum controle de minha rotina, hum, é bem uma "crise existencial", onde me sinto apenas mais um ser incapaz de ser algo significante, ou que ao menos tivesse tido tal importância algum dia.
Lembras da chuva que parece mais com bombas explodindo silenciosamente transbordando rios, um frio que congela os pulsos, uma torrente de navalhas? Há piores.
Aquele tipo de chuva alimentada pelas lágrimas obtidas por meio de lembranças ruins, por lágrimas que foram congeladas pelo frio desse tema, pela guerra que foi percorrido em minhas trevas.
Lembranças que me permite sangrar.
Pensamentos angustiantes inudam minha vida, e essa fase... Ah essa fase está completamente inundada desses pensamentos que me fazem querer desistir e conseguir de tudo, jogar as coisas pro alto, mas também querer agarrar tudo. É uma sensação desconfortável, como se eu tivesse perdido em um lugar em que eu conheço bem.
No escuro dessa chuva eu me encontro novamente, perdido, encontrado. Eu gosto de chuvas, o que eu não gosto delas é quando ela se mistura nessas fases bestas da nossa vida, tudo se torna frio.
'Me sinto vivo a cada banho de chuva que molha o meu corpo'
Gosto de tomar banho de chuva.
Quando as gotas penetram um ritmo gostoso de alegria, como se o tempo parasse pra me ver se molhando nessa chuva que no mesmo tempo que transmite pensamentos frios, transmite também uma energia inexplicável de renovação.
Tome um banho de chuva e deixa ela lavar a sua alma. E não se preocupe em ficar doente, não existe doença pior que a angustia da alma.
Angustia. É o que sinto agora, angustia de coisas desnecessárias, de pessoas desnecessárias, de atrasos em minha vida. Sinto rancor disso tudo, e preso também a isso que me afunda mais e mais.
Eu gosto mesmo é de chover!
O bom da chuva é que ela se mistura com nossas lágrimas, interpretando e lavando as dores que guardamos.
Me olho no espelho, eu vi meu rosto, e então não reconheci.
E em cada marcas que estavam ali, eu vi minha história pintada em códigos.
Uma chuva que parece não ter fim, que se perde na linha do horizonte. E inunda minha vida, agora.
Em uma hora ou outra, tudo ficará submerso, inundado, afundado.
Às vezes vem acompanhado e coberto de tanta dor e sofrimento, que dá vontade de se deixar afogar e dá fim a tudo isso. Mergulhar nessa saída de emergência. Meus pensamentos torna tudo tão mais doloroso e torturante.
Porém, pode ocorrer a chance de que, lá no fundo, haja um ralo que, mais certo ou mais tarde, secará toda essa chuva de lágrimas.
Mais fácil seria se eu me trancafiasse num casulo de vidro, me entregasse as minhas trevas, me jogar em meu território, longe destas chuvas, longe de tudo e de todos. Mais fácil seria se fosse recomeçado do zero.
Meus sonhos gritam!
Podem ser nuvens carregadas e pesadas, mas o mais reconfortante, é que são passageiras, levadas pelo vento da esperança.
Tudo passa!
Tudo vai passar, assim como a chuva, tudo é passageiro.
Torna da chuva um recanto de fases.
É só mais um dia de chuva ...

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